RACIONAL: O transplante de fígado é aceito como modalidade terapêutica efetiva nas doenças hepáticas avançadas, incluindo a cirrose alcoólica. OBJETIVO: Avaliar os resultados do transplante hepático em pacientes com cirrose alcoólica no Programa de Transplante Hepático do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR. PACIENTES E MÉTODOS: Análise retrospectiva dos pacientes com cirrose alcoólica submetidos a transplante hepático no Serviço de Transplante Hepático do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná entre setembro de 1991 e janeiro de 2001. Todos os candidatos apresentavam período de abstinência de álcool > 6 meses antes do transplante. A identificação do consumo de álcool no período pós-transplante hepático baseou-se em: (1) informações fornecidas pelo paciente e/ou familiares, e/ou (2) anormalidades bioquímicas sugestivas de consumo abusivo de álcool associadas a anormalidades histológicas compatíveis com lesão pelo etanol. RESULTADOS: Vinte adultos com cirrose alcoólica (19 homens e 1 mulher) com mediana de idade de 50 anos (29-61 anos) foram submetidos a transplante hepático, correspondendo a 13,8% das indicações de transplante hepático em adultos. Em 30% dos pacientes (6/20) houve associação com hepatite viral crônica, e em 1 caso (5%) presença de hepatocarcinoma. A maioria dos pacientes apresentava disfunção hepática grave no pré-transplante (75% Child C). A mediana do tempo de abstinência pré-transplante foi de 24 meses (9 a 120 meses). A mediana do tempo de seguimento pós-transplante foi de 14 meses (1 a 66 meses). A sobrevida do paciente em 1 e 3 anos após o transplante hepático foi de 75% e 50%, respectivamente. As principais complicações observadas foram: rejeição aguda (n = 8; 40%), rejeição crônica (n = 1; 5%), trombose da artéria hepática (n = 3; 15%), complicações biliares (n = 3; 15%) infecção por citomegalovírus (n = 4; 20%), infecções bacterianas e fúngicas (n = 9; 45%). A incidência detectada de recidiva do consumo de álcool foi de 15% (3/20). Em um dos casos de recidiva o uso inadequado dos imunossupressores resultou em rejeição crônica com perda do enxerto. CONCLUSÕES: Transplante hepático na cirrose alcoólica associou-se a níveis satisfatórios de sobrevida a curto e médio prazo. No presente estudo a recidiva do consumo de álcool foi pequena, o que pode ser devido à falta de rastreamento adequado.
BACKGROUND: Liver transplantation is accepted as effective therapeutic option for end-stage liver disease, including alcoholic liver disease AIM: To evaluate the outcome of liver transplantation for alcoholic liver disease in the Liver Transplantation Program at "Hospital de Clínicas" of the Federal University of Paraná, Curitiba, PR, Brazil PATIENTS AND METHODS: It was performed a retrospective study of the patients who underwent liver transplantation for alcoholic end-stage liver disease between September 1991 and January 2001. The minimum abstinence period required was 6 months before liver transplantation. Identification of alcohol consumption after liver transplantation was determinated by information provided by patient or family and biochemical or histological anormalities RESULTS: Twenty patients underwent liver transplantation for alcoholic liver disease in the study period, 95% (19/20) were men and the median age was 50 years (29-61 years). Seventy-five percent of the patients (15/20) had severe liver disfunction (Child C class) in the pre-transplant period. In six of them (30%) there was association with viral hepatitis and in one, with hepatocarcinoma. Median abstinence period before liver transplantation was 24 months, varying from 9 to 120 months. One-year and 3-year survival rate were 75% and 50%, respectively. The main complications were: acute cellular rejection (40%), chronic rejection (5%), hepatic artery thrombosis (15%), biliary complications (15%), bacterial or fungal infections (45%), cytomegalovirus infection (20%). Three patients returned to alcohol use after liver transplantation CONCLUSION: The survival of patients who received liver transplant for alcoholic cirrhosis are satisfactory. In the present study there was a small index of alcohol use after liver transplantation.